quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Futebol à imagem do seu Povo


Sacchi já referia que o “Futebol é o espelho da sociedade e da política de um país”. São vários os exemplos que relacionam o Futebol com outros Sistemas Sociais, como a política ou até a religião. O Barcelona e o Atlético de Bilbao assumem-se como grandes exemplos da ligação entre a política e o Futebol (por exemplo, na ditadura de Franco os seus estádios eram os únicos locais onde os seus adeptos podiam protestar contra o regime sem irem presos), depois temos o exemplo do Celtic de Glasgow e do Glasgow Rangers, que são dois clubes conotados com uma rivalidade religiosa.

Nestes clubes a cultura do seu povo (autónomo e orgulhoso) repercute-se na forma como estes clubes são geridos. O Futebol é assim, Cultura, porque estes clubes actuam como a sociedade em que estão inseridos exige. Os adeptos do Atlético de Bilbao não se sentem espanhóis, mas sim bascos, bem como, os adeptos do Barcelona se sentem catalães. De uma forma prática, esta influência da sociedade verifica-se na constituição dos plantéis destas equipas. No Atlético de Bilbao todos os jogadores são provenientes do País Basco (oriundos da sua própria formação, da Real Sociedad ou até do Osasuna). Por outro lado, o Barcelona apresenta muitas vezes no seu onze titular, 8/9 jogadores provenientes da sua “cantera” (Valdés, Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Messi, Pedro, Bojan, etc). É a filosofia do Barça formar jogadores para si mesmo (enquanto que o Real Madrid prefere comprar os melhores do mundo e completar o plantel com jogadores da "cantera").

Sou um defensor desta forma de pensar e agir, e é com algum aborrecimento, que quando analiso os plantéis das equipas portuguesas, vejo que na sua maioria são constituídas por jogadores estrangeiros. E pior, este fenómeno está-se alargar pelos escalões de formação, e cada vez mais, será difícil pará-lo, devido aos interesses instalados. Ainda ontem, Rui Jorge (treinador da Selecção Nacional sub 21) referia, que não chamou nenhum jogador dos três grandes…porque não há quem chamar. De facto, parece ser mais fácil para os grandes contratarem jovens noutros mercados (muitas vezes sem curriculum relevante), do que apostar nos jovens da sua formação. Rui Jorge ainda afirmou: "É algo que merece ser repensado. Há uma escassez acentuada de atletas destas idades na Liga, e isso é algo que deve preocupar os portugueses. Com um leque de escolha menor, a qualidade pode ressentir-se no futuro”.

Estou a seguir com entusiasmo a campanha do Varzim S.C na Liga Orangina, que está a fazer um campeonato muito regular, com um plantel jovem e com muitos jogadores oriundos da sua formação. É um plantel constituído por 25 jogadores portugueses e 2 brasileiros! Esta política poderá ser a tábua de salvação para a crise financeira que o clube atravessa, visto que alguns dos seus jovens estão a ser seguidos por grandes clubes e também começam a ser chamados às selecções nacionais. Que apareçam mais clubes com esta filosofia!