domingo, 26 de dezembro de 2010

Como Jogar?


Analisando o percurso de Paulo Sérgio no Sporting C.P e de AVB no F.C.Porto, fica evidente, que as ideias de jogo de cada um são muito divergentes, bem como, o caminho que cada um escolheu para construir uma forma de jogar para as suas equipas.

AVB, apesar de ser mais novo e conotado de treinador com pouca experiência, para além de não ter sido jogador de futebol, mostrou ter as suas ideias bem claras, desde cedo trabalhou a estrutura 1-4-3-3 e aos poucos tem introduzido o 1-4-4-2 (losango). Pelo que se verifica nos jogos, a equipa tem assimilado as suas ideias e os jogadores sentem-se confortáveis ao colocá-las em prática. Isto não é um processo resultante do acaso ou de “bitaites”, é um processo construído. A equipa gosta de ter a posse de bola, não joga tanto em transições como na era de Jesualdo e os jogadores mostram uma grande disponibilidade mental para este princípio de jogo, resultante de uma emocionalidade colectiva, que só existe porque os jogadores sentem que é este o caminho que os pode levar ao êxito.

O surgimento deste tipo de jogo resulta de um processo de treino, que contém a emotividade que o jogo comporta. O treino é assim um espaço aberto, onde os problemas do jogo surgem previamente no treino, porque há a necessidade de se decidir sistematicamente para que as coisas que pretendemos que sejam evidenciadas em jogo surjam na forma de piloto automático, isto é, de forma inconsciente. Desta forma, os jogadores decidem sem pensar. Sobre isto, lembro-me de há uns dias atrás ver o Barcelona a manter a bola na sua grande área, isto porque a vontade de manter a bola está completamente incorporada nos seus jogadores e já surge inconscientemente. É isto que se quer com o treino, mas antes disso as ideias têm de estar bem claras na cabeça do treinador.

Contudo, no futebol, principalmente nos escalões de formação, desde idades muito baixas, o que não falta são contextos de treino fechados, com os treinadores a quererem decidir pelos jogadores, como se de um jogo de “playstation” se tratasse. Quando não estão os treinadores, os pais tomam o lugar destes. Nestas situações os jogadores não têm critério, não são levados a pensar, porque estão muito conscientes (em função dos constantes “feedback’s” – passa, remata, chuta, etc.), não decidindo de forma livre e de acordo com os princípios de jogo da sua equipa, que não nos dão uma ideia fixa de resolver um problema do jogo.

Paulo Sérgio ainda se encontra confuso sobre o melhor caminho para a sua equipa, que pode até ser reflexo de um clube em constante reflexão e iniciação de novos ciclos (a meio da época, vai-se iniciar um novo ciclo com Couceiro). As estruturas apresentadas vagueiam entre o 1-4-3-3, 1-4-4-2 clássico e losango, e é muito imprevisível descortinar qual o seu melhor onze, bem como, qual a sua estrutura principal. A equipa não demonstra um processo de evolução crescente e sustentado e de forma individual, à excepção de André Santos e Postiga, os jogadores estão estagnados. Não há ideias claramente definidas quanto à forma de jogar, estrutura da equipa, tipo de jogadores para determinadas posições e as abordagens aos jogos com alterações de muitos jogadores, têm dado derrotas com clubes de menor dimensão. E a confusão de ideias, tende a continuar…

PS: Gostava de felicitar o Professor José Guilherme pela nova etapa que vai iniciar na Académica, tem competência para o cargo e um conhecimento invulgar do Futebol.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010


 Entrevista a Filipe Cândido

Como criador deste blog é com enorme prazer que início este espaço de entrevistas com Filipe Cândido, um jogador com vasta experiência no Futebol Nacional e Internacional, com um conhecimento invulgar das diversas áreas que o atravessa e com um carácter que muito dignifica este Desporto. Para além de um grande jogador…poderá estar aqui um grande treinador!

Filipe Cândido: Em primeiro lugar, e antes de abordar os temas, tenho de agradecer o convite feito pelo meu amigo Nelson Pinho. Tendo em conta a qualidade dos assuntos e a forma como são debatidos neste sítio, aceitei de imediato expor um pouco da experiência adquirida durante a minha carreira como futebolista profissional, assim como algumas ideias pessoais. Saliento que em 15 anos de Futebol profissional trabalhei com 30 treinadores diferentes.


Ideias de Futebol: Iniciando a nossa conversa sobre o teu percurso futebolístico, sem dúvida que a passagem pelo Real Madrid foi um dos momentos marcantes…


Filipe Cândido: A primeira impressão que fica em relação ao meu percurso é que, podia ter sido melhor tendo em conta a esperança depositada em mim enquanto jogador da formação do Sporting C.P. e da Selecção Nacional. Sabendo o que sei hoje e com todo o conhecimento adquirido enquanto jogador e estando por dentro das relações existentes no Futebol, digo que foi a carreira possível da qual me orgulho. Formei-me naquele que é considerado um dos melhores clubes a nível da formação, pelos talentos que tem formado ao longo dos anos, o Sporting Clube de Portugal. Tive o privilégio de jogar naquele que é para mim o maior clube do mundo, o Real Madrid (contratado com apenas 16 anos), apesar de só ter jogado na equipa B e equipa C, acabei por partilhar vários treinos com a equipa A, que tinha nesse ano jogadores como Raúl, Hierro, Buyo, Sanchis, Seedorf, Redondo, Roberto Carlos, Suker, Mijatovic, Alkorta, Guti, Amavisca, Zé Roberto, Secretário, e muitos outros grandes jogadores que se sagraram campeões de Espanha e no ano seguinte Campeões Europeus. Parece fácil treinar com tanta qualidade à nossa volta. A bola vem sempre redondinha, tens sempre linhas de passe seguras, e no meio deles também te sentes craque. Só quem passou por aquele clube pode ter a noção da sua dimensão, mas posso dizer que todos os dias a cidade desportiva do Real (antiga cidade desportiva) tinha uma assiduidade de milhares de pessoas para verem os treinos das suas equipas profissionais (A,B,C), pagando 500 pesetas (3 euros) pela entrada. Eu vinha do Sporting que apenas tinha um campo pelado para treinar e um campo relvado para jogar. Ali tinha 4 campos relvados, 2 pelados e ainda um pequenino relvado que se chamava maracanazinho. Registo que era proibido treinar de caneleiras (apenas usávamos uma meia pequena), a justificação deles era que no treino tinhas de aprender a respeitar o colega quando existia contacto e que não era para dar pancada. E só nos deixavam ligar os pés se tivéssemos tido uma entorse e viéssemos de lesão, pois por outros motivos não deixavam (diziam que enfraquecia a tibiotársica). Enfim, era muita diferença tendo em conta aquilo a que vinha habituado do Sporting. A semelhança entre Sporting e Real Madrid que encontrei foi a nível do Futebol ou a forma como queriam que jogássemos, pois era privilegiado um jogo colectivo baseado na construção desde trás.

Também joguei no Campeonato do Mundo na Nigéria 1999 na Selecção de Esperanças (nº13) e participei no Torneio de Toulon em França, entre muitos outros torneios internacionais desde os sub-15 aos sub-21. Tive várias experiências em diferentes países, entre os quais Bucheon da Coreia do Sul, Lokomotiv de Sófia da Bulgária, Kavala da Grécia, umas mais longas, outras durante períodos curtos. Joguei em todas as divisões dos nossos campeonatos passando por vários clubes (Vitória de Setúbal, S.C.Salgueiros, Felgueiras, Leça, A.Viseu, Imortal, Vila Meã e Lourosa) desde o norte até ao sul e tenho algo na minha carreira da qual me orgulho muito, que foi ter conseguido conciliar uma carreira profissional com uma vida académica.


IF: Ao longo da tua carreira tiveste 30 treinadores! Qual a tua opinião sobre os métodos de treino que vivencias-te?


FC: Em Espanha no Real Madrid (1996/97), parece-me importante dizer que eles privilegiavam a posse de bola no seu modelo de jogo, por isso fazíamos muitos treinos de manutenção de posse de bola ou circulação da mesma, mas mantendo um posicionamento específico em campo por cada jogador. Mas a carga de treino era feita muitas vezes de forma convencional, sendo utilizado para além do campo de treinos, uma mata (mais utilizada no período preparatório) perto da cidade desportiva que tinha um circuito para correr. O trabalho de musculação também fazia parte da nossa preparação. No período preparatório tínhamos duas sessões de treino diárias e no período de competição apenas à quarta-feira fazíamos dois treinos (manhã e tarde), onde uma destas sessões era no ginásio.

Na Coreia do Sul ao serviço do Bucheon (Fevereiro de 2005), apenas posso falar do mês que estive ao serviço deste clube, que coincidiu com o Período Preparatório da equipa. Por falta de adaptação acabei por regressar à minha antiga equipa em Portugal. Durante este período eram realizados 3 treinos por dia; o primeiro treino começava às 7h30m e era realizado um jogging de 6 a 8km; a segunda sessão começava às 11h e fazíamos treino físico através de circuitos onde se incluíam saltos e velocidade; finalmente a terceira sessão às 17h onde era feito um trabalho de campo com bola (com vários exercícios de posse de bola; combinações ofensivas com finalização; ou treinos de conjunto).

Na Bulgária, no Lokomotiv de Sofia (Janeiro/Maio 2006), fui transferido durante o mês de Janeiro, por isso cheguei no Período Preparatório (PP) de inverno e permaneci até ao final de época. Durante o PP foram quase sempre realizados dois treinos por dia onde na sessão da manhã realizávamos muitos exercícios de corrida continua, intervalados. Devido ao estado do tempo (tive treinos à temperatura de -5 graus ou mais frio) era difícil obter sucesso naqueles exercícios com bola pois o campo estava sempre coberto de neve e treinávamos com bolas cor de laranja. Só quando fomos estagiar, primeiro para a Grécia e depois para o Chipre (ainda antes do inicio do campeonato) é que deu para perceber o tipo de trabalho que a equipa técnica fazia. De manhã fazíamos trabalho de corrida contínua; circuitos de força sem bola; intervalados. Da parte da tarde, para grande surpresa minha eram realizados exercícios de posse de bola com transições, quer em espaços reduzidos quer em campo inteiro; era feito muito trabalho de organização defensiva e ofensiva tendo em conta o modelo de jogo.

Ao serviço do A.O.Kavala, na Grécia (2006/2007), o período preparatório durou cerca de 6 semanas. Estivemos a mais de 2000 mil metros de altitude a estagiar durante 20 dias, nas serras da Makedonia, nesse estágio realizávamos sempre 3 treinos por dia: 1ª sessão às 7h da manhã depois de tomarmos umas vitaminas e aminoácidos, mais uma tosta pequenina com mel. Quase em jejum fazíamos corridas contínuas e intervalados; 2ª sessão às 11h da manhã depois do pequeno-almoço, trabalho de ginásio (musculação); 3ª sessão às 17h, era realizado muito trabalho táctico e técnico através de muitos exercícios de posse de bola e jogos reduzidos. No período competitivo, passámos a ter apenas uma sessão diária excepto à quarta-feira pois neste dia de manhã fazíamos treino de musculação.

Em Portugal, na Super Liga, primeiro no Vitória de Setúbal (1997/98), antes de mais importa dizer que tive 3 treinadores neste ano, mas de uma forma geral realizávamos um tipo de trabalho “físico” essencialmente de forma convencional com corridas à volta do campo ou intervalados. Exercícios de posse de bola, alguns jogos reduzidos, “peladinhas”, “meínhos”, exercícios de finalização simples, treinos de conjunto (sempre à “quinta-feira”) faziam parte do trabalho que era feito com bola.


No Sport Comércio Salgueiros, ainda hoje me lembro dos treinos do Período Competitivo porque foram praticamente iguais durante o meu primeiro ano. Mas no Período preparatório eram duas sessões diárias que estavam partidas, uma das sessões era para dedicar mais ao aspecto físico (circuitos de força, intervalados ou corridas continuas). A semana no período competitivo tinha o treino de recuperação do jogo (terça-feira se o jogo tivesse sido no domingo); quarta-feira de manhã era físico (nem víamos as bolas) e de tarde fazíamos exercícios de posse de bola, jogos reduzidos e peladinhas; quinta-feira era mais posse de bola e um jogo de 7x7; na sexta-feira era treino de velocidade e de finalização, com peladinha para terminar o treino; e no sábado era o treino de velocidade de reacção no inicio e terminava com uma peladinha onde mudavam as regras de 5 em 5 min. (um toque; só com o pior pé; só golos de cabeça).


Na 2ª Liga, no Felgueiras (2000/02) é difícil falar de forma muito especifica porque aconteceram 9 trocas de treinadores em 2 anos mas entre o trabalho convencional e o treino integrado não houve grandes variações. O que registo é que quando um treinador chegava quase sempre dizia que o problema era que a equipa tinha um défice físico, e como imaginam foram muitas “pré-épocas” dentro do período competitivo.

No Leça (2002/04), foram dois anos também com 8 trocas de treinadores e o tipo de trabalho feito variou entre o treino convencional e o treino integrado.

No ano em que estive no Académico de Viseu (2004/05), foi a primeira vez que o tipo de trabalho foi diferente do habitual, quer em Portugal quer no estrangeiro. Não posso afirmar convictamente que o tipo de trabalho era baseado na periodização táctica. Percebi que embora a maioria dos exercícios estavam direccionados para uma forma de jogar, tendo em conta o modelo de jogo que o treinador queria implementar, e com exercícios que procuravam uma adaptação dos jogadores a essa ideia de jogo, ainda assim, algumas vezes fazíamos exercícios com circuitos com bola que se assemelham ao tipo de treino integrado.

No Imortal de Albufeira (Julho/Dezembro 2005), voltei a um tipo de trabalho “habitual” variando pelo convencional e pelo treino integrado.

No A.C.Vila Meâ (2007/08), foi realizado um tipo de trabalho onde prevalecia o treino integrado.

No Lourosa F.C. (2008/2010), o tipo de trabalho foi difícil de identificar claramente porque foi uma mistura entre o treino convencional e o integrado. Registo que o último treinador que tive, apesar de só ter sido durante as ultimas 5 semanas, realizou um tipo de trabalho baseado na Periodização Táctica.


IF- Que Ideias gostavas de deixar para uma melhor formação de jovens futebolistas?

FC: De forma muito resumida, a minha ideia para a formação passa por poder ensinar às crianças um Futebol de qualidade, que tenha por base alguns princípios que para mim são fundamentais para que haja uma mudança na forma como se joga em Portugal. Excepto 3 ou 4 equipas em Portugal, parece-me que o estilo do nosso futebol podia ser um pouco diferente, podíamos privilegiar mais o aspecto táctico e técnico, um pouco à imagem do Futebol que se pratica em Espanha (como por exemplo em todas as suas selecções). Em Portugal utiliza-se em demasia um “Futebol força”, a luta, a bola na frente e ganha as segundas bolas, a bola longa em diagonal para o ponta de lança que tenta desviar para os extremos ou médios. Temos de incutir e ensinar os nossos miúdos a saber guardar a bola, em criar linhas de passe ao colega, em saber utilizar um jogo posicional que permita circular a bola em segurança, ser objectivos pelo golo mas sem a ânsia da procura pelo golo. Devemos privilegiar mais a posse de bola e circulação e incutir esse tipo de Futebol, mesmo que no final o resultado seja uma derrota (sou da opinião que jogando um futebol de qualidade estamos mais perto da vitória). Temos de saber explicar que esse é o caminho para o sucesso deles no futuro, para serem melhores jogadores, temos de proporcionar prazer em ter a bola, assumir o jogo desde trás em construção. Durante estes 15 anos como profissional percebi a dificuldade que a maioria dos jogadores em Portugal, principalmente os mais jovens nos planteis profissionais, têm em se posicionar em campo. Os treinadores no Futebol profissional têm de perder muito tempo a corrigir aspectos que supostamente já deveriam estar adquiridos. É um problema de base que certamente não é trabalhado, o táctico. Parece-me que têm uma grande dificuldade na leitura de jogo, tendo em conta alguns princípios fundamentais e básicos. Fico com a sensação que estão em jogo, mas não percebem o jogo e que não entendem o que o jogo lhes vai pedindo à medida que se desenrola. Penso que existe também uma grande dificuldade em ter e manter a posse de bola e esses aspectos parecem-me importantes para existir uma evolução no nosso tipo de jogo. A maioria das equipas em Portugal não dá 10 toques seguidos entre cada jogador no espaço ofensivo (experimentem contar), não proporcionam um tipo de jogo de qualidade para que isso aconteça. Mas são os treinadores em Portugal, principalmente os da formação, que têm a responsabilidade de reflectir sobre o jogo e ao mesmo tempo procurar a evolução.










quarta-feira, 17 de novembro de 2010

S.C.Braga - F.C.Porto

No passado sábado assisti no velhinho 1ºde Maio ao S.C.Braga - F.C.Porto para o Campeonato Nacional de Juniores. Este encontro gerava grande expectativa em função do bom campeonato que ambas equipas têm vindo a realizar, sendo de salientar, que até esta jornada os dragões somavam apenas vitórias.

A minha atenção debruçou-se sobre a organização COLECTIVA do S.C.Braga. Evidencio a palavra colectiva, porque para mim a organização de uma equipa de Futebol deve ser essencialmente colectiva, que se sobrepõe ao plano mais individual. O S.C.Braga não temeu a maior capacidade individual e colectiva do F.C.Porto e o seu treinador não optou por alterar os seus princípios de jogo e assim jogou de igual para igual!
Neste sentido, faço um paralelismo com o F.C.Porto - S.L.Benfica onde Jorge Jesus deu demasiada importância aos duelos individuais, alterando dinâmicas do jogar do S.L.Benfica e passando uma mensagem de contenção à sua equipa. Esta, não foi a estratégia correcta, porque o jogo é muito mais do que isto, é muito mais do que a soma das suas partes (indivíduos), tal é a sua complexidade.

Mesmo com um adversário muito forte o S.C.Braga não alterou a sua estrutura e jogou em 1-4-1-2-1-2, tentou ter a bola e com qualidade, jogando em poucos toques e optando pelo passe como meio prioritário de comunicação entre os seus jogadores. Quando não era possível progredir em segurança tinha como referência os dois avançados e aí utilizavam o passe longo. Nesta estrutura saliento a preponderância dos laterais em dar largura ao jogo ofensivo da equipa, onde Fernando (lateral-esquerdo) o fazia muito bem.

No momento da perda da bola, notava-se a preocupação de realizar uma transição defensiva pressionante (pelo jogador mais perto da bola) permitindo aos restantes formar um bloco e entrar em organização defensiva. Em organização defensiva foi sempre uma equipa  muito compacta e impermeável no seu seio, realizando muito bem a basculação , tomando como referência a bola, sendo estas duas grandes razões para as poucas oportunidades que o F.C.Porto teve de golo. Nestes momentos, de realçar a criação de zonas de pressão, onde foi notória a preocupação em fechar o espaço do pivot do adversário (um dos jogadores mais preponderantes na posse e circulação de bola do F.C.Porto), que era realizada pelo médio ofensivo ou um dos avançados.

O resultado foi 0-0, jogo equilibrado e de grande riqueza táctica.

FICHA DE JOGO

11ª Jornada Sporting Clube de Braga 0-0 Futebol Clube do Porto

Data: 13 de Novembro de 2010

Hora: 15 h

Local: Estádio 1.º de Maio – Braga

SPORTING CLUBE DE BRAGA: Igor Rocha; Fábio Lopes; Kanu; Carlos Lomba; Fernando Vieira, Tiago Ribeiro, Hugo Airosa (Rúben Freitas, 73 min.); André Salvador; João Manuel (Afonso Figueiredo, 83); Emre Sahin e José Pedro

Treinador: Artur Jorge

FUTEBOL CLUBE DO PORTO: Tiago Maia; David Bruno Carneiro; Hugo Sousa; Ricardo Ferreira, Romário dos Santos; Paulo Jorge; Eduardo Silva 'Edu', António Carvalho 'Tozé' (Ricardo Alves, 74 min.) Flávio Moreno (Engin Bekdemir, 64 min.); Fábio Nunes e Filipe Barros 'Pipo' (Rafael Diniz 'Rafinha', 29 min.)

Treinador: Rui Gomes

Árbitro: Pedro Mesquita - Vila Real

Olheiro: Kanu, ex Laranja Mecânica, é um defesa central brasileiro, com uma qualidade técnica razoável, difícil de ultrapassar em situações de 1x1, dada a sua velocidade. Posiciona-se muito bem em defesa zonal, sendo o líder da defesa bracarense.

Olheiro: Fernando, ex Santo André, é um lateral esquerdo muito promissor, alto e com qualidade técnica assinalável. Cria perigo em situações ofensivas e apresenta uma leitura táctica pouco habitual para um lateral da sua idade e origem (Brasil). Fecha muito bem o espaço entre o lateral e o central e é forte em situações de 1x1. Realizou a pré-época com a equipa principal do S.C.Braga.


Indisciplina: Fábio Lopes (49 min.) e João Manuel (68 min.)

Marcadores: nada a registar

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Velocidade(s) do Jogo

Ao ver o S.L.Benfica – Sporting C.P saltou-me à vista a Velocidade de Jogo, que as duas equipas colocavam em prática. A Velocidade de Jogo é constituída por várias velocidades e uma equipa de qualidade tem necessariamente que entender e saber utilizar as várias velocidades.
Desde já, um jogo de Futebol precisa de pausas, porque como é um jogo de pára-arranca, a velocidade por si só, sem precisão, não garante a vivenciação eficaz de um jogar de qualidade. Quando uma equipa pretende fazer tudo à velocidade máxima (principalmente nos momentos que estão com um resultado desvantajoso), os erros sucedem-se, o número de “pontapés para a frente” aumenta significativamente, o que na maioria das vezes, favorece a equipa adversária. Então, é necessário os treinadores consciencializarem-se que é necessário uma equipa saber travar, acelerar, travar, e assim, ter tempo para pensar e não errar tantas vezes.
O S.L.Benfica jogou em diferentes velocidades, por outro lado, o Sporting C.P mostrou-se uma equipa apática e jogando sempre a uma velocidade baixa. O S.L.Benfica nos momentos de transição defesa-ataque utilizou como principais referências, F.Coentrão e Saviola, que aumentavam consideravelmente o ritmo de jogo. A presença de F.Coentrão no meio-campo permitiu-lhe ser esta referência (como tinha menos preocupações defensivas, quando a equipa recuperava a bola estava mais adiantado no terreno) e para além disso, bloqueou o jogador que dá mais vivacidade ao jogo do Sporting C.P, que apesar de jogar no sector defensivo, é um grande desequilibrador em terrenos mais avançados: João Pereira.
Se há jogador, que sabe pausar, parar e arrancar no jogo é Aimar. Apresenta uma inteligência de jogo fora do normal e é o cérebro deste S.L.Benfica. No Sporting C.P, saliento a maior maturidade de Rui Patrício, está a fazer um bom início de época e este pode ser o seu ano.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

(Sobre)Viver na Europa


Ao analisar a equipa do Marítimo na Liga Europa contra o BATE, equipa líder do campeonato da Bielorussia, verifico que o onze inicial é constituído por nove jogadores brasileiros, um senegalês e um português (Ricardo Esteves). Este, é o estado geral dos clubes portugueses, existe um excesso de jogadores estrangeiros, que começam a inundar de forma abusiva os escalões de formação. Na minha ideia é urgente inverter esta tendência, para bem do futuro do futebol / jogador português.
O Marítimo arriscou, jogou o jogo pelo jogo, contra uma equipa, que para mim, é do seu nível. Contudo, existem algumas razões para explicar o resultado final:
1) Em organização defensiva, a ideia passava por pressionar apenas quando o adversário ultrapassava a linha do meio campo, e assim, não souberam criar dificuldades aos defesas contrários no inicio do processo ofensivo do BATE, porque deixavam os defesas ter a bola, quando as suas fragilidades técnicas eram evidentes.
2) Em organização ofensiva, tentavam manter a posse de bola, mas com uma tendência excessiva em atacar pelo flanco esquerdo, onde era o lateral Alonso que dava amplitude e profundidade ao jogo. Um treinador adversário atento, bloqueava facilmente este jogador. Os médios-ala flectiam para o interior, abrindo espaço à subida dos laterais.
3) Pouca capacidade de Marquinho para desequilibrar, que era a referência nos momentos de transição defesa-ataque, devido à sua velocidade.
4) Quando uma equipa ataca deve preocupar-se com o seu equilibrio defensivo, e isso não aconteceu. R.Sousa era o médio centro que ficava responsável por esse equilibrio e Miranda tinha mais liberdade para atacar. Isto, criou um desequilibrio no lado esquerdo do Maritimo, devido às constantes subidas de Alonso. Resultado: dois golos do BATE surgiram pelo flanco esquerdo, devido a atrasos na recuperação defensiva e mau posicionamento do lateral, principalmente em fechar o espaço lateral/central.
5) O Marítimo não teve capacidade para entender os momentos do jogo, não soube ter concentração no momento de maior fulgor ofensivo do adversário. Os jogos passam por diferentes momentos e as equipas devem saber adaptar-se às diversas circunstâncias. Apesar de algumas oportunidades para marcar, sofreu três golos em quinze minutos.

Olheiro: Danilo Dias, de 24 anos, ex- Ipatinga, parece ser um jogador interessante, com boa técnica, contudo não é ao lado de Babá que pode render mais. É um tipico nº10, que gosta de ter a bola e deve jogar de trás para a frente.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Concepções de treino e competição

Todos os treinadores de futebol têm as suas ideias de jogo, mas para ter sucesso o treinador deve ser coerente, no modo como pretende fabricar o jogo da sua equipa. Quem tem ideias não muda facilmente, quem está sempre a mudar de ideias é porque não tem ideias nenhumas. A pior coisa que pode acontecer a um treinador é a mistura de ideias em função das contingências do envolvimento.

A denominada Periodização Táctica preconizada pelo professor Vítor Frade, diferencia-se das demais concepções de treino e de competição, e é com base nos seus pressupostos que tento periodizar e operacionalizar as minhas ideias de jogo.

Primeiro é importante identificar correctamente todas as correntes metodológicas, para depois se decidir qual a que devemos implementar para “cozinharmos” o jogo que pretendemos para as nossas equipas. É importante conhecer para se poder decidir!

A minha ideia não é a mesma daqueles que acreditam: na divisão da época desportiva por períodos ou fases com o objectivo de alcançarem picos de forma nas alturas mais importantes da época; no treino das capacidades físicas para obter ganhos no jogo; na divisão da componente física, técnica, táctica e psicológica na periodização/planificação do treino.

O sucesso de José Mourinho originou um novo “mito sebastianista”, porque em Portugal todos os agentes desportivos tentavam encontrar um novo Mourinho e foi evidente que alguns “predestinados” conseguiram promover-se com esta associação, apesar de tentarem passar uma imagem de afastamento ao melhor treinador do Mundo. A certa altura muitos treinadores referiam que os seus treinos tinham a presença da bola do inicio ao fim, mas esta forma de pensar não se pode confundir com a Periodização Táctica. Apesar da presença da bola em muitos exercícios, a preocupação era treinar a componente física ou técnica abstracta ou um jogo geral. Esta prática não faz parte das minhas ideias de futebol!

A Periodização Táctica centra-se “na operacionalização de um “jogar” através da criação e desenvolvimento contínuo do Modelo de Jogo e portanto, dos seus princípios. Neste contexto, a periodização e programação do processo confere primazia à Táctica ou seja, regula-se no desenvolvimento de uma organização colectiva que sobrecondiciona a variável física, técnica e psicológica. O processo centra-se na aquisição de determinadas regularidades no “jogar” da equipa através da operacionalização dos princípios do Modelo de Jogo assumindo-se por isso, num Treino Específico (Gomes, 2006).”

Bibliografia:
Gomes, M. (2006). Do Pé como técnica ao pensamento técnico dos pés dentro da caixa preta da periodização táctica : um estudo de caso . Monografia realizada no âmbito da disciplina de seminário do 5º ano da licenciatura de Desporto e Educação Física. Porto: FADE-UP.