domingo, 26 de dezembro de 2010

Como Jogar?


Analisando o percurso de Paulo Sérgio no Sporting C.P e de AVB no F.C.Porto, fica evidente, que as ideias de jogo de cada um são muito divergentes, bem como, o caminho que cada um escolheu para construir uma forma de jogar para as suas equipas.

AVB, apesar de ser mais novo e conotado de treinador com pouca experiência, para além de não ter sido jogador de futebol, mostrou ter as suas ideias bem claras, desde cedo trabalhou a estrutura 1-4-3-3 e aos poucos tem introduzido o 1-4-4-2 (losango). Pelo que se verifica nos jogos, a equipa tem assimilado as suas ideias e os jogadores sentem-se confortáveis ao colocá-las em prática. Isto não é um processo resultante do acaso ou de “bitaites”, é um processo construído. A equipa gosta de ter a posse de bola, não joga tanto em transições como na era de Jesualdo e os jogadores mostram uma grande disponibilidade mental para este princípio de jogo, resultante de uma emocionalidade colectiva, que só existe porque os jogadores sentem que é este o caminho que os pode levar ao êxito.

O surgimento deste tipo de jogo resulta de um processo de treino, que contém a emotividade que o jogo comporta. O treino é assim um espaço aberto, onde os problemas do jogo surgem previamente no treino, porque há a necessidade de se decidir sistematicamente para que as coisas que pretendemos que sejam evidenciadas em jogo surjam na forma de piloto automático, isto é, de forma inconsciente. Desta forma, os jogadores decidem sem pensar. Sobre isto, lembro-me de há uns dias atrás ver o Barcelona a manter a bola na sua grande área, isto porque a vontade de manter a bola está completamente incorporada nos seus jogadores e já surge inconscientemente. É isto que se quer com o treino, mas antes disso as ideias têm de estar bem claras na cabeça do treinador.

Contudo, no futebol, principalmente nos escalões de formação, desde idades muito baixas, o que não falta são contextos de treino fechados, com os treinadores a quererem decidir pelos jogadores, como se de um jogo de “playstation” se tratasse. Quando não estão os treinadores, os pais tomam o lugar destes. Nestas situações os jogadores não têm critério, não são levados a pensar, porque estão muito conscientes (em função dos constantes “feedback’s” – passa, remata, chuta, etc.), não decidindo de forma livre e de acordo com os princípios de jogo da sua equipa, que não nos dão uma ideia fixa de resolver um problema do jogo.

Paulo Sérgio ainda se encontra confuso sobre o melhor caminho para a sua equipa, que pode até ser reflexo de um clube em constante reflexão e iniciação de novos ciclos (a meio da época, vai-se iniciar um novo ciclo com Couceiro). As estruturas apresentadas vagueiam entre o 1-4-3-3, 1-4-4-2 clássico e losango, e é muito imprevisível descortinar qual o seu melhor onze, bem como, qual a sua estrutura principal. A equipa não demonstra um processo de evolução crescente e sustentado e de forma individual, à excepção de André Santos e Postiga, os jogadores estão estagnados. Não há ideias claramente definidas quanto à forma de jogar, estrutura da equipa, tipo de jogadores para determinadas posições e as abordagens aos jogos com alterações de muitos jogadores, têm dado derrotas com clubes de menor dimensão. E a confusão de ideias, tende a continuar…

PS: Gostava de felicitar o Professor José Guilherme pela nova etapa que vai iniciar na Académica, tem competência para o cargo e um conhecimento invulgar do Futebol.

Um comentário:

  1. Excelente artigo, que deveria ser lido por todos os treinadores que iniciam o seu trabalho numa equipa. Muitos parabéns por este blog de grande qualidade.
    Saudações desportivas

    Bruno Costa

    ResponderExcluir