sábado, 26 de novembro de 2011

Derby intenso

Nos prognósticos para um derby ouve-se imensas vezes o velho ditado do mundo da bola de que “a equipa que está pior é que vence”. Contudo, o momento actual de ambas as equipas não nos permitiu referi-lo, porque a motivação das duas estava elevadíssima, com o S.L.Benfica ainda invencível esta época e o Sporting C.P a fazer um bom arranque na Liga Portuguesa, encontrando-se a um ponto de distância do seu rival.

Jorge Jesus surpreendeu ao colocar Jardel no lugar de Luisão, até porque M.Vitor se afigurava como o substituto natural. Apesar da boa entrada de M.Vitor contra o Manchester United, Jardel acrescenta mais velocidade à defesa encarnada e mais centímetros para os lances aéreos. Por outro lado, Domingos colocou Carriço a pivot, relegando A.Santos para o banco de suplentes, uma opção estratégica que evidenciava uma maior preocupação (inicial) com o aspecto defensivo (marcação a Aimar) do que com o ofensivo, já que A.Santos acrescenta uma maior qualidade à posse de bola do Sporting. Para além deste aspecto, colocou Matias Fernandez como falso extremo, no sentido de fechar espaços no meio-campo em organização defensiva.

Na primeira parte observou-se uma intensa pressão de ambas as equipas. Nenhuma conseguiu ter o domínio do jogo por completo, acentuavam-se as preocupações defensivas de ambos os treinadores e os lances de perigo surgiram através de bolas paradas. No Sporting Matias Fernandez era o quarto médio em organização defensiva e com bola procurava sempre movimentos interiores deixando a linha para J.Pereira, situação que se alterou com a entrada de Carrillo, jogador que deu outra largura ao ataque leonino e mais criatividade em situações de 1x1. O Sporting tentou pressionar alto, não deixando os centrais e Javi Garcia iniciarem o processo de construção ofensiva, em que Elias juntava-se a Wolfswinkel na primeira linha de pressão. Com esta pressão intensa o Benfica só conseguia alguma clareza na posse de bola, quando esta chegava aos pés de Aimar ou Witsel. 

 O Benfica “afunilava” um pouco o seu jogo, porque a largura e profundidade do seu jogo ofensivo depende em grande medida dos seus laterais e aí, Maxi Pereira estava retraído pela marcação a Capel (que era a referência do Sporting na transição defesa-ataque) e Emerson não tem características de lateral, mas sim de defesa-esquerdo, até porque não desequilibra no ataque e cumpre defensivamente com muito esforço perante jovens como Carrillo. O golo surgiu em boa altura para o Benfica num lance de bola parada muito bem executado por todos os intervenientes.

A expulsão de Cardozo, obrigou Jorge Jesus a tirar Aimar, entrando Rodrigo mais fresco para pressionar e tentar condicionar ao máximo a participação dos defesas do Sporting no processo ofensivo. Para além disso, a sua velocidade permitia-lhe ser a referência na transição defesa-ataque do Benfica. Ruben Amorim também entrou para fechar o lado mais forte do Sporting, que utiliza preferencialmente Capel para criar desequilíbrios. No momento da expulsão, Domingos tirou Carriço e colocou A.Santos, porque agora necessitava de ter bola e de a circular com critério e qualidade. Diferentes preocupações de jogo resultaram em diferentes escolhas para a posição de pivot.

Por outro lado, o Benfica jogou com duas linhas de quatro jogadores mais Rodrigo, conseguiu agrupar-se e defendeu com agressividade a vantagem no marcador.

De salientar o bom desempenho dos dois Guarda-Redes, sem dúvida daqueles que dão pontos à sua equipa. No S.L.Benfica Witsel afigura-se como o cérebro da equipa, sendo muito inteligente nos vários momentos do jogo, entende perfeitamente quando deve acelerar ou retardar o ritmo do jogo e raramente perde uma bola. No Sporting, Elias revela-se excelente na pressão, aparece bem em zonas de finalização e alia a sua disponibilidade física a uma grande capacidade táctico-técnica. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Passe e a Velocidade

Acredito que é através da qualidade do passe, que uma equipa pode ter uma boa dinâmica e acima de tudo a velocidade de jogo que muitos pretendem e não aquela velocidade em km/h, que muitos olhares desportivos valorizam.

Por vezes, a velocidade de corrida que exigem aos jogadores é tanta, que estes são impedidos de jogar com a precisão necessária. Consequentemente, é com dificuldade que a qualidade de passe estará assegurada e assim, a comunicação da equipa poderá ficar bloqueada. Só não estará, para aqueles que ignoram o passe como um excelente meio de comunicação.

Como refere Valdano (2007) "não há nada mais lento e malicioso que um mau passe". Refere ainda : " A ciência já se instalou nos balneários para desentranhar muitos mistérios do jogo mas há coisas que não mudam. A bola continua a correr mais que os jogadores, a técnica poupa tempo, saber jogar preocupa a inteligência antes do sistema muscular...e não é de descartar que no dia em que vejamos um futebolista a manejar com exactidão os tempos de futebol, engordaremos todos de satisfação."

É importante ter paciência na manutenção da posse de bola e descobrir qual o espaço ou timing adequado para arriscar no passe e não existem regras universais para isto! É interessante ver como as equipas de qualidade gerem a posse de bola nos momentos em que querem perder tempo e depois ganham espaço para marcar golo!

sábado, 28 de maio de 2011

Memorável



O Manchester United iniciou o jogo com uma equipa titular, que pretendia passar a seguinte mensagem: “nós temos a nossa identidade e não a alterámos em função do adversário, mesmo que essa seja a melhor equipa do mundo”. Tacticamente o UM jogou contra o Barça da mesma forma que joga contra o Wigan. No Barcelona admiro a forma como Guardiola espicaça os seus jogadores antes dos jogos, que sempre com grande humildade, elogia o adversário e "aparentemente" desmotiva a sua equipa: “ Se jogarmos como em 2009 não ganhámos”. Este alerta foi muito importante no sentido de motivar uma equipa que já ganhou tudo que havia para ganhar.

Nos primeiros 15 minutos o MU tentou pressionar alto o Barça, tentando explorar as costas de Mascherano (na maior parte das vezes, porque este revela mais dificuldades que Piqué a defesa-central), através de passes longos tendo como referência Chicharito. Mas depois o tiki-taka começou e nunca mais acabou. Chicharito poucas vezes tocou na bola e apenas alguns lampejos de Rooney criavam dificuldades à organização defensiva do Barcelona.

O maior problema do MU foi deixar Carrick completamente só contra os artistas do Barcelona. Giggs até se esforçou para ajudar Carrick, mas como era o elo de ligação com o ataque, tinha de subir no terreno, só que depois a sua velocidade de transição defensiva aos 37 anos e após grande parte da carreira a jogar a extremo, não é a mesma velocidade do Barça na circulação da bola e em fazer surgir entrelinhas (no espaço entre Carrick e os centrais), jogadores como Messi, Pedro, Villa ou até Xavi e Iniesta, que muitas vezes criavam uma situação de 3x1 naquela zona do terreno. Então, quando Carrick tinha de “tapar” os buracos nas zonas laterais, este corredor central estava completamente aberto e aí o Barça optava por aumentar a velocidade do jogo utilizando  preferencialmente a velocidade de Messi em progressão com a bola. Enquanto isto se sucedia, Valencia e Park não conseguiam fechar o interior da equipa e limitavam-se a correr por correr, sem que a equipa evidenciasse qualquer tipo de organização. Quando Ferguson troca Park com Giggs nada se alterou, talvez se tenha arrependido de não jogar com Fletcher de inicio. E foi através desta zona frágil do MU que surgiram os dois primeiros golos do Barcelona. E como foi tão diferente a abordagem de Ferguson ao jogo quando comparada com a de Mourinho…

Foi um jogo memorável para quem é adepto deste desporto. Era evidente a frustração dos jogadores do MU por não conseguirem ter a bola, quando estão tão habituados a viver com ela. O Barça com um futebol apoiado, onde os seus extremos (Villa e Pedro) procuram principalmente espaços interiores / centrais, deixados ao “abandono” por Messi que recua para pegar na bola, deixando as linhas para os laterais (neste caso D.Alves assume mais preponderância que Abidal). Quando um jogador tem a bola, dois ou três jogadores da sua equipa aproximam-se, criando sempre linhas de passe e há a preocupação de um jogador pedir de caras com o portador da bola, fazendo a função de pivot nos espaços entrelinhas. Esta aglomeração em torno do portador da bola permite ao Barça ser muito forte em posse de bola, mas também muito agressivo nos momentos de transição ataque-defesa, porque no local onde perde a bola tem sempre 2/3 jogadores preparados para a ganhar logo de imediato. O Barça pressionou alto e de forma agressiva o jogo todo, e assim surgiu o 3ºgolo.

É importante salientar também a preponderância que os dois guarda-redes têm nas suas equipas, que se revela não só nos momentos defensivos em que são chamados a intervir, mas também na organização ofensiva da equipa quando são chamados a jogar com os pés, participando na manutenção da posse de bola.

Ganhou a melhor equipa, a melhor ideia de futebol…e como referiu Luis Freitas Lobo…”Acima disto já não há mais nada”.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Futebol das Crianças – Parte II


No processo de formação é necessária uma lógica, que coloque as crianças com a preocupação para a relação do seu corpo com a bola, conseguindo fazer o que lhe apetecer com a bola, mas não perdendo a qualidade de desempenho mesmo em condições adversas. Por isso, como etapa inicial do processo de formação surge o domínio da bola. Neste sentido, torna-se fundamental fazer crescer o tempo de contacto com bola, utilizando vários tipos de piso, vários tamanhos de bola e tocando nesta com várias partes do corpo, porque a bola deve ser um prolongamento do corpo do jogador. A partir daí, já é possível ter como preocupação complementar aquilo que eles vão conseguindo como background do jogar: o bom toque, o bom passe e a boa recepção.

Como seguimento, deve surgir a preocupação com o passe e recepção. É importante criar condições para que os miúdos tirem os olhos da bola, o objectivo é: “bola nos pés, olhos no jogo”. Tendo por relevância o passe e a circulação, posso estar a incorporar como preocupação também a simulação ou finta. Assim, a 3ªfase do processo de formação relaciona-se com as situações de 1 X 1, dribles, fintas e simulações, onde os atletas devem ter como intenção, criar espaços, quando estão sujeitos a marcações agressivas do adversário.

4ªFase: preocupação com as velocidades da velocidade, ritmos de jogo. O jogo de qualidade precisa de pausas, de se aumentar o espaço através do tempo. Isto não tem nada a ver com velocidade de deslocamento. A lei da Inércia de Newton diz-nos que quanto mais eu acelerar mais dificuldade tenho em parar. Se o futebol é um jogo de pára – arranca, a velocidade por si só, sem precisão, não garante a vivenciação eficaz do jogar.

A 5ªFase relaciona-se com a finalização ou reconhecimento do timing de decisão. O conceito de timing pode ter entendimentos diferentes: o timing pode-se relacionar com a coordenação das cadeias musculares e outro timing com a análise do contexto em que estamos inseridos (no jogo). São dois timings diferentes e eles fazem-se tanto melhor, quando melhor nós tivermos vivenciado determinadas situações. O momento antecedente à finalização é de especial relevância, onde o treinador deve trabalhar no sentido das crianças centrarem as suas acções no jogo e não o jogo em si, até porque é normal serem egoístas nesta fase do processo. Numa fase já adiantada, a criança aprende a jogar com a largura e comprimento do campo, com o objectivo de criar desequilíbrios na organização do adversário.

terça-feira, 15 de março de 2011

O Futebol das Crianças – Parte I

Actualmente a nossa sociedade “aprisiona” cada vez mais as nossas crianças, já não existem as tardes na rua a jogar Futebol ou as cabanas nos montes. Este fenómeno tem consequências no processo de crescimento e formação da criança, que um treinador de Futebol tem de ter em consideração.

Há dias li uma entrevista ao Professor Carlos Neto, docente da Faculdade da Motricidade Humana, em que retirei algumas citações, que considerei mais pertinentes para a minha actividade de treinador, que me levaram a compreender melhor o comportamento das crianças que estão sob a minha responsabilidade:

Brincar na rua, sem adultos a tomar conta, é uma coisa que a maioria das crianças portuguesas desconhece. Um espantoso sinal dos tempos, relatado por investigadores: para estes miúdos enclausurados pelo medo crescente dos pais e a presença das novas tecnologias, o recreio escolar será o único local que resta para brincar livremente.

Os pais estão cada vez mais a inventar a infância dos filhos e o modo como fazem poderá estar já a deturpar o seu desenvolvimento. Por exemplo, começam a correr e chocam com a cabeça uns dos outros. O afinamento perceptivo está em decadência.

O tempo que pertence por direito às crianças, para fazer o que lhes apetece, está a ser roubado pelos adultos.

 Ao contrário das vivências experimentadas pelas gerações antes delas, a maioria dos miúdos de hoje desconhece em absoluto, a explosão de energia que acontecia nas ruas no final de cada dia passado de aulas.

Brincar é treinar para o inesperado.

 Não é só o corpo, é também a alma que se encontra ameaçada.

O que isto tem relacionado com o Futebol das crianças? Brincar na rua é uma analogia com o futebol de rua, onde a grande marca libertadora do futebol de rua era fundamentalmente a prática se fazer com jogo. Um jogo variado, consoante as condições (buracos, nº de elementos, balizas ou não) e sem a presença de adultos (familiares e treinadores, que muitas vezes são os maiores castradores do potencial dos jovens). “Brincar é treinar para o inesperado” é das frases mais importantes do texto, isto é o que fazia o futebol de rua e é uma das principais funções de um treinador formador e não formatador.

Para uma leitura mais atenta sobre a entrevista podem consultar em: http://www.apdm.netii.net/web_documents/entrevista_a_carlos_neto.pdf






sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Uma nova Selecção

Desde que Paulo Bento assumiu o comando da Selecção Nacional, para além de um novo estilo de liderança trouxe também novas ideias de jogo. Após o jogo contra a Argentina, confirmei que o seleccionador tem vindo a consolidar uma forma de jogar, que é imune ao maior ou menor poderio dos nossos adversários. Este é para mim o ponto de viragem em relação a Carlos Queiroz, vejamos:

1) Portugal – Coreia do Norte: Portugal inicia o jogo com dois laterais que conferem à equipa uma maior predisposição atacante (Miguel e F.Coentrão), Ronaldo joga como extremo e H.Almeida a ponta de lança. Contudo no jogo seguinte, ocorrem mudanças significativas em função do adversário, que se mantêm para o jogo decisivo contra a Espanha.

2) Portugal – Brasil: no onze de Portugal, Ricardo Costa joga a lateral-direito (ou melhor defesa-direito); Pepe a pivot (trinco) e Ronaldo a ponta de lança. Com estas alterações verificou-se uma grande preocupação de Carlos Queiroz com o momento defensivo e depois em utilizar Ronaldo como referência atacante, tornando o nosso jogo ofensivo “solitário”, porque o futebol “cavalgado” de Ronaldo não permitia a Portugal assentar a sua posse de bola, visto que ele teve dificuldades em temporizar o jogo. Pepe preocupava-se mais com os equilíbrios defensivos e em recuperar a bola, sendo em posse de bola um jogador que utiliza a progressão de bola em vez do passe.
Dois adversários completamente distintos, duas abordagens diferentes ao jogo, que conferiram uma dinâmica diferente ao jogar da equipa, em função das diferentes individualidades em posições fulcrais da equipa. Com estas alterações constantes, a identidade da equipa jamais teve uma lógica coerente.
3) Com Paulo Bento, a Selecção não recorreu a defesas-centrais para jogar nas laterais contra a Espanha e Argentina e o nosso meio-campo apesar da fragilidade fisica? (sem Pepe) recorreu a jogadores melhor dotados técnica e tacticamente naquele sector. Assim, estamos a ir ao encontro daquilo que é o nosso ADN futebolístico, que é marcado pelo gosto de ter a bola, jogando um futebol apoiado, alicerçado na irreverência dos nossos atacantes, que conferem a imprevisibilidade individual e colectiva que o jogo necessita. Assistimos na Selecção actual a um jogo onde os jogadores têm uma intervenção naquilo que são melhores. Aqui evidencia-se a inteligência de um treinador ao adaptar as suas ideias de jogo às melhores características dos seus jogadores.

O meio-campo é constituído por Meireles – Moutinho – Martins. Eles fizeram com que Portugal jogasse com poucos toques e com capacidade para tirar a bola da zona de pressão. São jogadores que entendem o jogo de uma forma semelhante, e pensam todos segundo a mesma lógica, o que facilita a dinâmica das suas interacções. Para além disto, são jogadores preponderantes no momento de transição ofensiva, porque pensam rápido e executam com velocidade.

O jogo Portugal - Argentina acabou por ser agradável de ver, tendo em conta a pouca qualidade que estes jogos normalmente apresentam. A Argentina a jogar um futebol curto, apoiado e lento, parecia uma selecção aspirante a Barcelona, mas onde a única semelhança era a qualidade de Messi. Sem dúvida, um jogador mais fino do que Ronaldo na sua técnica e inteligência, mais imprevisível. Esta selecção jogou sem um avançado fixo, Messi quando descia no terreno para “pegar” no jogo, via-se muitas vezes Cambiasso (por incrível que pareça) entre os centrais portugueses, a fazer de ponte (pivot ofensivo) para as entradas de Messi, Di Maria ou Lavezzi, que se mantiveram sempre abertos no ataque argentino.

Esta derrota não deve trazer consequências negativas ao bom momento que a Selecção atravessa, mas no desenvolvimento de uma equipa de Futebol é importante saber porque se perde e também porque se ganha. Só assim o processo de construção de uma equipa tem lógica e é coerente!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Futebol à imagem do seu Povo


Sacchi já referia que o “Futebol é o espelho da sociedade e da política de um país”. São vários os exemplos que relacionam o Futebol com outros Sistemas Sociais, como a política ou até a religião. O Barcelona e o Atlético de Bilbao assumem-se como grandes exemplos da ligação entre a política e o Futebol (por exemplo, na ditadura de Franco os seus estádios eram os únicos locais onde os seus adeptos podiam protestar contra o regime sem irem presos), depois temos o exemplo do Celtic de Glasgow e do Glasgow Rangers, que são dois clubes conotados com uma rivalidade religiosa.

Nestes clubes a cultura do seu povo (autónomo e orgulhoso) repercute-se na forma como estes clubes são geridos. O Futebol é assim, Cultura, porque estes clubes actuam como a sociedade em que estão inseridos exige. Os adeptos do Atlético de Bilbao não se sentem espanhóis, mas sim bascos, bem como, os adeptos do Barcelona se sentem catalães. De uma forma prática, esta influência da sociedade verifica-se na constituição dos plantéis destas equipas. No Atlético de Bilbao todos os jogadores são provenientes do País Basco (oriundos da sua própria formação, da Real Sociedad ou até do Osasuna). Por outro lado, o Barcelona apresenta muitas vezes no seu onze titular, 8/9 jogadores provenientes da sua “cantera” (Valdés, Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Messi, Pedro, Bojan, etc). É a filosofia do Barça formar jogadores para si mesmo (enquanto que o Real Madrid prefere comprar os melhores do mundo e completar o plantel com jogadores da "cantera").

Sou um defensor desta forma de pensar e agir, e é com algum aborrecimento, que quando analiso os plantéis das equipas portuguesas, vejo que na sua maioria são constituídas por jogadores estrangeiros. E pior, este fenómeno está-se alargar pelos escalões de formação, e cada vez mais, será difícil pará-lo, devido aos interesses instalados. Ainda ontem, Rui Jorge (treinador da Selecção Nacional sub 21) referia, que não chamou nenhum jogador dos três grandes…porque não há quem chamar. De facto, parece ser mais fácil para os grandes contratarem jovens noutros mercados (muitas vezes sem curriculum relevante), do que apostar nos jovens da sua formação. Rui Jorge ainda afirmou: "É algo que merece ser repensado. Há uma escassez acentuada de atletas destas idades na Liga, e isso é algo que deve preocupar os portugueses. Com um leque de escolha menor, a qualidade pode ressentir-se no futuro”.

Estou a seguir com entusiasmo a campanha do Varzim S.C na Liga Orangina, que está a fazer um campeonato muito regular, com um plantel jovem e com muitos jogadores oriundos da sua formação. É um plantel constituído por 25 jogadores portugueses e 2 brasileiros! Esta política poderá ser a tábua de salvação para a crise financeira que o clube atravessa, visto que alguns dos seus jovens estão a ser seguidos por grandes clubes e também começam a ser chamados às selecções nacionais. Que apareçam mais clubes com esta filosofia!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Como Jogar?


Analisando o percurso de Paulo Sérgio no Sporting C.P e de AVB no F.C.Porto, fica evidente, que as ideias de jogo de cada um são muito divergentes, bem como, o caminho que cada um escolheu para construir uma forma de jogar para as suas equipas.

AVB, apesar de ser mais novo e conotado de treinador com pouca experiência, para além de não ter sido jogador de futebol, mostrou ter as suas ideias bem claras, desde cedo trabalhou a estrutura 1-4-3-3 e aos poucos tem introduzido o 1-4-4-2 (losango). Pelo que se verifica nos jogos, a equipa tem assimilado as suas ideias e os jogadores sentem-se confortáveis ao colocá-las em prática. Isto não é um processo resultante do acaso ou de “bitaites”, é um processo construído. A equipa gosta de ter a posse de bola, não joga tanto em transições como na era de Jesualdo e os jogadores mostram uma grande disponibilidade mental para este princípio de jogo, resultante de uma emocionalidade colectiva, que só existe porque os jogadores sentem que é este o caminho que os pode levar ao êxito.

O surgimento deste tipo de jogo resulta de um processo de treino, que contém a emotividade que o jogo comporta. O treino é assim um espaço aberto, onde os problemas do jogo surgem previamente no treino, porque há a necessidade de se decidir sistematicamente para que as coisas que pretendemos que sejam evidenciadas em jogo surjam na forma de piloto automático, isto é, de forma inconsciente. Desta forma, os jogadores decidem sem pensar. Sobre isto, lembro-me de há uns dias atrás ver o Barcelona a manter a bola na sua grande área, isto porque a vontade de manter a bola está completamente incorporada nos seus jogadores e já surge inconscientemente. É isto que se quer com o treino, mas antes disso as ideias têm de estar bem claras na cabeça do treinador.

Contudo, no futebol, principalmente nos escalões de formação, desde idades muito baixas, o que não falta são contextos de treino fechados, com os treinadores a quererem decidir pelos jogadores, como se de um jogo de “playstation” se tratasse. Quando não estão os treinadores, os pais tomam o lugar destes. Nestas situações os jogadores não têm critério, não são levados a pensar, porque estão muito conscientes (em função dos constantes “feedback’s” – passa, remata, chuta, etc.), não decidindo de forma livre e de acordo com os princípios de jogo da sua equipa, que não nos dão uma ideia fixa de resolver um problema do jogo.

Paulo Sérgio ainda se encontra confuso sobre o melhor caminho para a sua equipa, que pode até ser reflexo de um clube em constante reflexão e iniciação de novos ciclos (a meio da época, vai-se iniciar um novo ciclo com Couceiro). As estruturas apresentadas vagueiam entre o 1-4-3-3, 1-4-4-2 clássico e losango, e é muito imprevisível descortinar qual o seu melhor onze, bem como, qual a sua estrutura principal. A equipa não demonstra um processo de evolução crescente e sustentado e de forma individual, à excepção de André Santos e Postiga, os jogadores estão estagnados. Não há ideias claramente definidas quanto à forma de jogar, estrutura da equipa, tipo de jogadores para determinadas posições e as abordagens aos jogos com alterações de muitos jogadores, têm dado derrotas com clubes de menor dimensão. E a confusão de ideias, tende a continuar…

PS: Gostava de felicitar o Professor José Guilherme pela nova etapa que vai iniciar na Académica, tem competência para o cargo e um conhecimento invulgar do Futebol.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010


 Entrevista a Filipe Cândido

Como criador deste blog é com enorme prazer que início este espaço de entrevistas com Filipe Cândido, um jogador com vasta experiência no Futebol Nacional e Internacional, com um conhecimento invulgar das diversas áreas que o atravessa e com um carácter que muito dignifica este Desporto. Para além de um grande jogador…poderá estar aqui um grande treinador!

Filipe Cândido: Em primeiro lugar, e antes de abordar os temas, tenho de agradecer o convite feito pelo meu amigo Nelson Pinho. Tendo em conta a qualidade dos assuntos e a forma como são debatidos neste sítio, aceitei de imediato expor um pouco da experiência adquirida durante a minha carreira como futebolista profissional, assim como algumas ideias pessoais. Saliento que em 15 anos de Futebol profissional trabalhei com 30 treinadores diferentes.


Ideias de Futebol: Iniciando a nossa conversa sobre o teu percurso futebolístico, sem dúvida que a passagem pelo Real Madrid foi um dos momentos marcantes…


Filipe Cândido: A primeira impressão que fica em relação ao meu percurso é que, podia ter sido melhor tendo em conta a esperança depositada em mim enquanto jogador da formação do Sporting C.P. e da Selecção Nacional. Sabendo o que sei hoje e com todo o conhecimento adquirido enquanto jogador e estando por dentro das relações existentes no Futebol, digo que foi a carreira possível da qual me orgulho. Formei-me naquele que é considerado um dos melhores clubes a nível da formação, pelos talentos que tem formado ao longo dos anos, o Sporting Clube de Portugal. Tive o privilégio de jogar naquele que é para mim o maior clube do mundo, o Real Madrid (contratado com apenas 16 anos), apesar de só ter jogado na equipa B e equipa C, acabei por partilhar vários treinos com a equipa A, que tinha nesse ano jogadores como Raúl, Hierro, Buyo, Sanchis, Seedorf, Redondo, Roberto Carlos, Suker, Mijatovic, Alkorta, Guti, Amavisca, Zé Roberto, Secretário, e muitos outros grandes jogadores que se sagraram campeões de Espanha e no ano seguinte Campeões Europeus. Parece fácil treinar com tanta qualidade à nossa volta. A bola vem sempre redondinha, tens sempre linhas de passe seguras, e no meio deles também te sentes craque. Só quem passou por aquele clube pode ter a noção da sua dimensão, mas posso dizer que todos os dias a cidade desportiva do Real (antiga cidade desportiva) tinha uma assiduidade de milhares de pessoas para verem os treinos das suas equipas profissionais (A,B,C), pagando 500 pesetas (3 euros) pela entrada. Eu vinha do Sporting que apenas tinha um campo pelado para treinar e um campo relvado para jogar. Ali tinha 4 campos relvados, 2 pelados e ainda um pequenino relvado que se chamava maracanazinho. Registo que era proibido treinar de caneleiras (apenas usávamos uma meia pequena), a justificação deles era que no treino tinhas de aprender a respeitar o colega quando existia contacto e que não era para dar pancada. E só nos deixavam ligar os pés se tivéssemos tido uma entorse e viéssemos de lesão, pois por outros motivos não deixavam (diziam que enfraquecia a tibiotársica). Enfim, era muita diferença tendo em conta aquilo a que vinha habituado do Sporting. A semelhança entre Sporting e Real Madrid que encontrei foi a nível do Futebol ou a forma como queriam que jogássemos, pois era privilegiado um jogo colectivo baseado na construção desde trás.

Também joguei no Campeonato do Mundo na Nigéria 1999 na Selecção de Esperanças (nº13) e participei no Torneio de Toulon em França, entre muitos outros torneios internacionais desde os sub-15 aos sub-21. Tive várias experiências em diferentes países, entre os quais Bucheon da Coreia do Sul, Lokomotiv de Sófia da Bulgária, Kavala da Grécia, umas mais longas, outras durante períodos curtos. Joguei em todas as divisões dos nossos campeonatos passando por vários clubes (Vitória de Setúbal, S.C.Salgueiros, Felgueiras, Leça, A.Viseu, Imortal, Vila Meã e Lourosa) desde o norte até ao sul e tenho algo na minha carreira da qual me orgulho muito, que foi ter conseguido conciliar uma carreira profissional com uma vida académica.


IF: Ao longo da tua carreira tiveste 30 treinadores! Qual a tua opinião sobre os métodos de treino que vivencias-te?


FC: Em Espanha no Real Madrid (1996/97), parece-me importante dizer que eles privilegiavam a posse de bola no seu modelo de jogo, por isso fazíamos muitos treinos de manutenção de posse de bola ou circulação da mesma, mas mantendo um posicionamento específico em campo por cada jogador. Mas a carga de treino era feita muitas vezes de forma convencional, sendo utilizado para além do campo de treinos, uma mata (mais utilizada no período preparatório) perto da cidade desportiva que tinha um circuito para correr. O trabalho de musculação também fazia parte da nossa preparação. No período preparatório tínhamos duas sessões de treino diárias e no período de competição apenas à quarta-feira fazíamos dois treinos (manhã e tarde), onde uma destas sessões era no ginásio.

Na Coreia do Sul ao serviço do Bucheon (Fevereiro de 2005), apenas posso falar do mês que estive ao serviço deste clube, que coincidiu com o Período Preparatório da equipa. Por falta de adaptação acabei por regressar à minha antiga equipa em Portugal. Durante este período eram realizados 3 treinos por dia; o primeiro treino começava às 7h30m e era realizado um jogging de 6 a 8km; a segunda sessão começava às 11h e fazíamos treino físico através de circuitos onde se incluíam saltos e velocidade; finalmente a terceira sessão às 17h onde era feito um trabalho de campo com bola (com vários exercícios de posse de bola; combinações ofensivas com finalização; ou treinos de conjunto).

Na Bulgária, no Lokomotiv de Sofia (Janeiro/Maio 2006), fui transferido durante o mês de Janeiro, por isso cheguei no Período Preparatório (PP) de inverno e permaneci até ao final de época. Durante o PP foram quase sempre realizados dois treinos por dia onde na sessão da manhã realizávamos muitos exercícios de corrida continua, intervalados. Devido ao estado do tempo (tive treinos à temperatura de -5 graus ou mais frio) era difícil obter sucesso naqueles exercícios com bola pois o campo estava sempre coberto de neve e treinávamos com bolas cor de laranja. Só quando fomos estagiar, primeiro para a Grécia e depois para o Chipre (ainda antes do inicio do campeonato) é que deu para perceber o tipo de trabalho que a equipa técnica fazia. De manhã fazíamos trabalho de corrida contínua; circuitos de força sem bola; intervalados. Da parte da tarde, para grande surpresa minha eram realizados exercícios de posse de bola com transições, quer em espaços reduzidos quer em campo inteiro; era feito muito trabalho de organização defensiva e ofensiva tendo em conta o modelo de jogo.

Ao serviço do A.O.Kavala, na Grécia (2006/2007), o período preparatório durou cerca de 6 semanas. Estivemos a mais de 2000 mil metros de altitude a estagiar durante 20 dias, nas serras da Makedonia, nesse estágio realizávamos sempre 3 treinos por dia: 1ª sessão às 7h da manhã depois de tomarmos umas vitaminas e aminoácidos, mais uma tosta pequenina com mel. Quase em jejum fazíamos corridas contínuas e intervalados; 2ª sessão às 11h da manhã depois do pequeno-almoço, trabalho de ginásio (musculação); 3ª sessão às 17h, era realizado muito trabalho táctico e técnico através de muitos exercícios de posse de bola e jogos reduzidos. No período competitivo, passámos a ter apenas uma sessão diária excepto à quarta-feira pois neste dia de manhã fazíamos treino de musculação.

Em Portugal, na Super Liga, primeiro no Vitória de Setúbal (1997/98), antes de mais importa dizer que tive 3 treinadores neste ano, mas de uma forma geral realizávamos um tipo de trabalho “físico” essencialmente de forma convencional com corridas à volta do campo ou intervalados. Exercícios de posse de bola, alguns jogos reduzidos, “peladinhas”, “meínhos”, exercícios de finalização simples, treinos de conjunto (sempre à “quinta-feira”) faziam parte do trabalho que era feito com bola.


No Sport Comércio Salgueiros, ainda hoje me lembro dos treinos do Período Competitivo porque foram praticamente iguais durante o meu primeiro ano. Mas no Período preparatório eram duas sessões diárias que estavam partidas, uma das sessões era para dedicar mais ao aspecto físico (circuitos de força, intervalados ou corridas continuas). A semana no período competitivo tinha o treino de recuperação do jogo (terça-feira se o jogo tivesse sido no domingo); quarta-feira de manhã era físico (nem víamos as bolas) e de tarde fazíamos exercícios de posse de bola, jogos reduzidos e peladinhas; quinta-feira era mais posse de bola e um jogo de 7x7; na sexta-feira era treino de velocidade e de finalização, com peladinha para terminar o treino; e no sábado era o treino de velocidade de reacção no inicio e terminava com uma peladinha onde mudavam as regras de 5 em 5 min. (um toque; só com o pior pé; só golos de cabeça).


Na 2ª Liga, no Felgueiras (2000/02) é difícil falar de forma muito especifica porque aconteceram 9 trocas de treinadores em 2 anos mas entre o trabalho convencional e o treino integrado não houve grandes variações. O que registo é que quando um treinador chegava quase sempre dizia que o problema era que a equipa tinha um défice físico, e como imaginam foram muitas “pré-épocas” dentro do período competitivo.

No Leça (2002/04), foram dois anos também com 8 trocas de treinadores e o tipo de trabalho feito variou entre o treino convencional e o treino integrado.

No ano em que estive no Académico de Viseu (2004/05), foi a primeira vez que o tipo de trabalho foi diferente do habitual, quer em Portugal quer no estrangeiro. Não posso afirmar convictamente que o tipo de trabalho era baseado na periodização táctica. Percebi que embora a maioria dos exercícios estavam direccionados para uma forma de jogar, tendo em conta o modelo de jogo que o treinador queria implementar, e com exercícios que procuravam uma adaptação dos jogadores a essa ideia de jogo, ainda assim, algumas vezes fazíamos exercícios com circuitos com bola que se assemelham ao tipo de treino integrado.

No Imortal de Albufeira (Julho/Dezembro 2005), voltei a um tipo de trabalho “habitual” variando pelo convencional e pelo treino integrado.

No A.C.Vila Meâ (2007/08), foi realizado um tipo de trabalho onde prevalecia o treino integrado.

No Lourosa F.C. (2008/2010), o tipo de trabalho foi difícil de identificar claramente porque foi uma mistura entre o treino convencional e o integrado. Registo que o último treinador que tive, apesar de só ter sido durante as ultimas 5 semanas, realizou um tipo de trabalho baseado na Periodização Táctica.


IF- Que Ideias gostavas de deixar para uma melhor formação de jovens futebolistas?

FC: De forma muito resumida, a minha ideia para a formação passa por poder ensinar às crianças um Futebol de qualidade, que tenha por base alguns princípios que para mim são fundamentais para que haja uma mudança na forma como se joga em Portugal. Excepto 3 ou 4 equipas em Portugal, parece-me que o estilo do nosso futebol podia ser um pouco diferente, podíamos privilegiar mais o aspecto táctico e técnico, um pouco à imagem do Futebol que se pratica em Espanha (como por exemplo em todas as suas selecções). Em Portugal utiliza-se em demasia um “Futebol força”, a luta, a bola na frente e ganha as segundas bolas, a bola longa em diagonal para o ponta de lança que tenta desviar para os extremos ou médios. Temos de incutir e ensinar os nossos miúdos a saber guardar a bola, em criar linhas de passe ao colega, em saber utilizar um jogo posicional que permita circular a bola em segurança, ser objectivos pelo golo mas sem a ânsia da procura pelo golo. Devemos privilegiar mais a posse de bola e circulação e incutir esse tipo de Futebol, mesmo que no final o resultado seja uma derrota (sou da opinião que jogando um futebol de qualidade estamos mais perto da vitória). Temos de saber explicar que esse é o caminho para o sucesso deles no futuro, para serem melhores jogadores, temos de proporcionar prazer em ter a bola, assumir o jogo desde trás em construção. Durante estes 15 anos como profissional percebi a dificuldade que a maioria dos jogadores em Portugal, principalmente os mais jovens nos planteis profissionais, têm em se posicionar em campo. Os treinadores no Futebol profissional têm de perder muito tempo a corrigir aspectos que supostamente já deveriam estar adquiridos. É um problema de base que certamente não é trabalhado, o táctico. Parece-me que têm uma grande dificuldade na leitura de jogo, tendo em conta alguns princípios fundamentais e básicos. Fico com a sensação que estão em jogo, mas não percebem o jogo e que não entendem o que o jogo lhes vai pedindo à medida que se desenrola. Penso que existe também uma grande dificuldade em ter e manter a posse de bola e esses aspectos parecem-me importantes para existir uma evolução no nosso tipo de jogo. A maioria das equipas em Portugal não dá 10 toques seguidos entre cada jogador no espaço ofensivo (experimentem contar), não proporcionam um tipo de jogo de qualidade para que isso aconteça. Mas são os treinadores em Portugal, principalmente os da formação, que têm a responsabilidade de reflectir sobre o jogo e ao mesmo tempo procurar a evolução.










quarta-feira, 17 de novembro de 2010

S.C.Braga - F.C.Porto

No passado sábado assisti no velhinho 1ºde Maio ao S.C.Braga - F.C.Porto para o Campeonato Nacional de Juniores. Este encontro gerava grande expectativa em função do bom campeonato que ambas equipas têm vindo a realizar, sendo de salientar, que até esta jornada os dragões somavam apenas vitórias.

A minha atenção debruçou-se sobre a organização COLECTIVA do S.C.Braga. Evidencio a palavra colectiva, porque para mim a organização de uma equipa de Futebol deve ser essencialmente colectiva, que se sobrepõe ao plano mais individual. O S.C.Braga não temeu a maior capacidade individual e colectiva do F.C.Porto e o seu treinador não optou por alterar os seus princípios de jogo e assim jogou de igual para igual!
Neste sentido, faço um paralelismo com o F.C.Porto - S.L.Benfica onde Jorge Jesus deu demasiada importância aos duelos individuais, alterando dinâmicas do jogar do S.L.Benfica e passando uma mensagem de contenção à sua equipa. Esta, não foi a estratégia correcta, porque o jogo é muito mais do que isto, é muito mais do que a soma das suas partes (indivíduos), tal é a sua complexidade.

Mesmo com um adversário muito forte o S.C.Braga não alterou a sua estrutura e jogou em 1-4-1-2-1-2, tentou ter a bola e com qualidade, jogando em poucos toques e optando pelo passe como meio prioritário de comunicação entre os seus jogadores. Quando não era possível progredir em segurança tinha como referência os dois avançados e aí utilizavam o passe longo. Nesta estrutura saliento a preponderância dos laterais em dar largura ao jogo ofensivo da equipa, onde Fernando (lateral-esquerdo) o fazia muito bem.

No momento da perda da bola, notava-se a preocupação de realizar uma transição defensiva pressionante (pelo jogador mais perto da bola) permitindo aos restantes formar um bloco e entrar em organização defensiva. Em organização defensiva foi sempre uma equipa  muito compacta e impermeável no seu seio, realizando muito bem a basculação , tomando como referência a bola, sendo estas duas grandes razões para as poucas oportunidades que o F.C.Porto teve de golo. Nestes momentos, de realçar a criação de zonas de pressão, onde foi notória a preocupação em fechar o espaço do pivot do adversário (um dos jogadores mais preponderantes na posse e circulação de bola do F.C.Porto), que era realizada pelo médio ofensivo ou um dos avançados.

O resultado foi 0-0, jogo equilibrado e de grande riqueza táctica.

FICHA DE JOGO

11ª Jornada Sporting Clube de Braga 0-0 Futebol Clube do Porto

Data: 13 de Novembro de 2010

Hora: 15 h

Local: Estádio 1.º de Maio – Braga

SPORTING CLUBE DE BRAGA: Igor Rocha; Fábio Lopes; Kanu; Carlos Lomba; Fernando Vieira, Tiago Ribeiro, Hugo Airosa (Rúben Freitas, 73 min.); André Salvador; João Manuel (Afonso Figueiredo, 83); Emre Sahin e José Pedro

Treinador: Artur Jorge

FUTEBOL CLUBE DO PORTO: Tiago Maia; David Bruno Carneiro; Hugo Sousa; Ricardo Ferreira, Romário dos Santos; Paulo Jorge; Eduardo Silva 'Edu', António Carvalho 'Tozé' (Ricardo Alves, 74 min.) Flávio Moreno (Engin Bekdemir, 64 min.); Fábio Nunes e Filipe Barros 'Pipo' (Rafael Diniz 'Rafinha', 29 min.)

Treinador: Rui Gomes

Árbitro: Pedro Mesquita - Vila Real

Olheiro: Kanu, ex Laranja Mecânica, é um defesa central brasileiro, com uma qualidade técnica razoável, difícil de ultrapassar em situações de 1x1, dada a sua velocidade. Posiciona-se muito bem em defesa zonal, sendo o líder da defesa bracarense.

Olheiro: Fernando, ex Santo André, é um lateral esquerdo muito promissor, alto e com qualidade técnica assinalável. Cria perigo em situações ofensivas e apresenta uma leitura táctica pouco habitual para um lateral da sua idade e origem (Brasil). Fecha muito bem o espaço entre o lateral e o central e é forte em situações de 1x1. Realizou a pré-época com a equipa principal do S.C.Braga.


Indisciplina: Fábio Lopes (49 min.) e João Manuel (68 min.)

Marcadores: nada a registar

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Velocidade(s) do Jogo

Ao ver o S.L.Benfica – Sporting C.P saltou-me à vista a Velocidade de Jogo, que as duas equipas colocavam em prática. A Velocidade de Jogo é constituída por várias velocidades e uma equipa de qualidade tem necessariamente que entender e saber utilizar as várias velocidades.
Desde já, um jogo de Futebol precisa de pausas, porque como é um jogo de pára-arranca, a velocidade por si só, sem precisão, não garante a vivenciação eficaz de um jogar de qualidade. Quando uma equipa pretende fazer tudo à velocidade máxima (principalmente nos momentos que estão com um resultado desvantajoso), os erros sucedem-se, o número de “pontapés para a frente” aumenta significativamente, o que na maioria das vezes, favorece a equipa adversária. Então, é necessário os treinadores consciencializarem-se que é necessário uma equipa saber travar, acelerar, travar, e assim, ter tempo para pensar e não errar tantas vezes.
O S.L.Benfica jogou em diferentes velocidades, por outro lado, o Sporting C.P mostrou-se uma equipa apática e jogando sempre a uma velocidade baixa. O S.L.Benfica nos momentos de transição defesa-ataque utilizou como principais referências, F.Coentrão e Saviola, que aumentavam consideravelmente o ritmo de jogo. A presença de F.Coentrão no meio-campo permitiu-lhe ser esta referência (como tinha menos preocupações defensivas, quando a equipa recuperava a bola estava mais adiantado no terreno) e para além disso, bloqueou o jogador que dá mais vivacidade ao jogo do Sporting C.P, que apesar de jogar no sector defensivo, é um grande desequilibrador em terrenos mais avançados: João Pereira.
Se há jogador, que sabe pausar, parar e arrancar no jogo é Aimar. Apresenta uma inteligência de jogo fora do normal e é o cérebro deste S.L.Benfica. No Sporting C.P, saliento a maior maturidade de Rui Patrício, está a fazer um bom início de época e este pode ser o seu ano.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

(Sobre)Viver na Europa


Ao analisar a equipa do Marítimo na Liga Europa contra o BATE, equipa líder do campeonato da Bielorussia, verifico que o onze inicial é constituído por nove jogadores brasileiros, um senegalês e um português (Ricardo Esteves). Este, é o estado geral dos clubes portugueses, existe um excesso de jogadores estrangeiros, que começam a inundar de forma abusiva os escalões de formação. Na minha ideia é urgente inverter esta tendência, para bem do futuro do futebol / jogador português.
O Marítimo arriscou, jogou o jogo pelo jogo, contra uma equipa, que para mim, é do seu nível. Contudo, existem algumas razões para explicar o resultado final:
1) Em organização defensiva, a ideia passava por pressionar apenas quando o adversário ultrapassava a linha do meio campo, e assim, não souberam criar dificuldades aos defesas contrários no inicio do processo ofensivo do BATE, porque deixavam os defesas ter a bola, quando as suas fragilidades técnicas eram evidentes.
2) Em organização ofensiva, tentavam manter a posse de bola, mas com uma tendência excessiva em atacar pelo flanco esquerdo, onde era o lateral Alonso que dava amplitude e profundidade ao jogo. Um treinador adversário atento, bloqueava facilmente este jogador. Os médios-ala flectiam para o interior, abrindo espaço à subida dos laterais.
3) Pouca capacidade de Marquinho para desequilibrar, que era a referência nos momentos de transição defesa-ataque, devido à sua velocidade.
4) Quando uma equipa ataca deve preocupar-se com o seu equilibrio defensivo, e isso não aconteceu. R.Sousa era o médio centro que ficava responsável por esse equilibrio e Miranda tinha mais liberdade para atacar. Isto, criou um desequilibrio no lado esquerdo do Maritimo, devido às constantes subidas de Alonso. Resultado: dois golos do BATE surgiram pelo flanco esquerdo, devido a atrasos na recuperação defensiva e mau posicionamento do lateral, principalmente em fechar o espaço lateral/central.
5) O Marítimo não teve capacidade para entender os momentos do jogo, não soube ter concentração no momento de maior fulgor ofensivo do adversário. Os jogos passam por diferentes momentos e as equipas devem saber adaptar-se às diversas circunstâncias. Apesar de algumas oportunidades para marcar, sofreu três golos em quinze minutos.

Olheiro: Danilo Dias, de 24 anos, ex- Ipatinga, parece ser um jogador interessante, com boa técnica, contudo não é ao lado de Babá que pode render mais. É um tipico nº10, que gosta de ter a bola e deve jogar de trás para a frente.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Concepções de treino e competição

Todos os treinadores de futebol têm as suas ideias de jogo, mas para ter sucesso o treinador deve ser coerente, no modo como pretende fabricar o jogo da sua equipa. Quem tem ideias não muda facilmente, quem está sempre a mudar de ideias é porque não tem ideias nenhumas. A pior coisa que pode acontecer a um treinador é a mistura de ideias em função das contingências do envolvimento.

A denominada Periodização Táctica preconizada pelo professor Vítor Frade, diferencia-se das demais concepções de treino e de competição, e é com base nos seus pressupostos que tento periodizar e operacionalizar as minhas ideias de jogo.

Primeiro é importante identificar correctamente todas as correntes metodológicas, para depois se decidir qual a que devemos implementar para “cozinharmos” o jogo que pretendemos para as nossas equipas. É importante conhecer para se poder decidir!

A minha ideia não é a mesma daqueles que acreditam: na divisão da época desportiva por períodos ou fases com o objectivo de alcançarem picos de forma nas alturas mais importantes da época; no treino das capacidades físicas para obter ganhos no jogo; na divisão da componente física, técnica, táctica e psicológica na periodização/planificação do treino.

O sucesso de José Mourinho originou um novo “mito sebastianista”, porque em Portugal todos os agentes desportivos tentavam encontrar um novo Mourinho e foi evidente que alguns “predestinados” conseguiram promover-se com esta associação, apesar de tentarem passar uma imagem de afastamento ao melhor treinador do Mundo. A certa altura muitos treinadores referiam que os seus treinos tinham a presença da bola do inicio ao fim, mas esta forma de pensar não se pode confundir com a Periodização Táctica. Apesar da presença da bola em muitos exercícios, a preocupação era treinar a componente física ou técnica abstracta ou um jogo geral. Esta prática não faz parte das minhas ideias de futebol!

A Periodização Táctica centra-se “na operacionalização de um “jogar” através da criação e desenvolvimento contínuo do Modelo de Jogo e portanto, dos seus princípios. Neste contexto, a periodização e programação do processo confere primazia à Táctica ou seja, regula-se no desenvolvimento de uma organização colectiva que sobrecondiciona a variável física, técnica e psicológica. O processo centra-se na aquisição de determinadas regularidades no “jogar” da equipa através da operacionalização dos princípios do Modelo de Jogo assumindo-se por isso, num Treino Específico (Gomes, 2006).”

Bibliografia:
Gomes, M. (2006). Do Pé como técnica ao pensamento técnico dos pés dentro da caixa preta da periodização táctica : um estudo de caso . Monografia realizada no âmbito da disciplina de seminário do 5º ano da licenciatura de Desporto e Educação Física. Porto: FADE-UP.