terça-feira, 15 de março de 2011

O Futebol das Crianças – Parte I

Actualmente a nossa sociedade “aprisiona” cada vez mais as nossas crianças, já não existem as tardes na rua a jogar Futebol ou as cabanas nos montes. Este fenómeno tem consequências no processo de crescimento e formação da criança, que um treinador de Futebol tem de ter em consideração.

Há dias li uma entrevista ao Professor Carlos Neto, docente da Faculdade da Motricidade Humana, em que retirei algumas citações, que considerei mais pertinentes para a minha actividade de treinador, que me levaram a compreender melhor o comportamento das crianças que estão sob a minha responsabilidade:

Brincar na rua, sem adultos a tomar conta, é uma coisa que a maioria das crianças portuguesas desconhece. Um espantoso sinal dos tempos, relatado por investigadores: para estes miúdos enclausurados pelo medo crescente dos pais e a presença das novas tecnologias, o recreio escolar será o único local que resta para brincar livremente.

Os pais estão cada vez mais a inventar a infância dos filhos e o modo como fazem poderá estar já a deturpar o seu desenvolvimento. Por exemplo, começam a correr e chocam com a cabeça uns dos outros. O afinamento perceptivo está em decadência.

O tempo que pertence por direito às crianças, para fazer o que lhes apetece, está a ser roubado pelos adultos.

 Ao contrário das vivências experimentadas pelas gerações antes delas, a maioria dos miúdos de hoje desconhece em absoluto, a explosão de energia que acontecia nas ruas no final de cada dia passado de aulas.

Brincar é treinar para o inesperado.

 Não é só o corpo, é também a alma que se encontra ameaçada.

O que isto tem relacionado com o Futebol das crianças? Brincar na rua é uma analogia com o futebol de rua, onde a grande marca libertadora do futebol de rua era fundamentalmente a prática se fazer com jogo. Um jogo variado, consoante as condições (buracos, nº de elementos, balizas ou não) e sem a presença de adultos (familiares e treinadores, que muitas vezes são os maiores castradores do potencial dos jovens). “Brincar é treinar para o inesperado” é das frases mais importantes do texto, isto é o que fazia o futebol de rua e é uma das principais funções de um treinador formador e não formatador.

Para uma leitura mais atenta sobre a entrevista podem consultar em: http://www.apdm.netii.net/web_documents/entrevista_a_carlos_neto.pdf






4 comentários:

  1. Boas caro Nelson.
    Em relação a este assunto, na minha openião, é um problema grave na nossa sociedade, em que se reflecte nas capacidades motoras dos miúdos, como na saúde, como na sua forma de evoluir, ou seja, ser criança.
    É um assunto um pouco complicado de combater, pois, a evolução na sociedade faz perder custumes, hábitos que tornavam as crianças como crianças e não crianças a pensar como adultos.
    De quem será a culpa?
    Teremos que colocar como culpados, os pais, por prenderem miúdos como se fossem de vidro tendo medo que o menino ou menina ao levar com uma bola, com uma gota de chova, brincar na rua parte o menino;
    A evolução da sociedade, que criou e cria consolas, tecnologias, etc, para prender e viciar as crianças para que estas se divertem sem sair de casa;
    Ao governo, que segundo me disseram, proíbe as crianças de jogar á bola na rua...;
    Quais as soluções para um treinador combater este problema... Bem, jogos reduzidos, em que a sua intervenção seja se passível, nenhuma.
    É um assunto que levaria a horas e horas de reflexão.
    Deixo aqui um sinal de contentamento e agrado com a associação de futebol do Porto, que tenta recriar um pouco o futebol de rua durante o verão. Espero mais iniciativas destas no resto das associações de futebol e nos clubes.

    Os meus cumprimentos.

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  2. Boa tarde
    Muito obrigado pelo seu excelente comentário.
    Este texto vai ter seguimento nos meus próximos artigos onde quero escrever sobre a importância do futebol de rua e como (re)criar este futebol no treino, achei pertinente esta introdução para as pessoas poderem contextualizar-se sobre esta problemática.
    Gostava que se identificasse caso fosse possível e obrigado pela sua participação.
    Cumprimentos

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  3. Esqueci-me de "assinar" o comentário...
    É o teu vizinho Joan Costa, neste momento treinador da equipa B dos iniciados de Espinho.
    Tens aqui um bom blogue.
    Abraços

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  4. Jose Luis Barbosa Silva27 de junho de 2011 às 13:54

    Muito bem, mister Nelson!!!Parabens!!!

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