sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Uma nova Selecção

Desde que Paulo Bento assumiu o comando da Selecção Nacional, para além de um novo estilo de liderança trouxe também novas ideias de jogo. Após o jogo contra a Argentina, confirmei que o seleccionador tem vindo a consolidar uma forma de jogar, que é imune ao maior ou menor poderio dos nossos adversários. Este é para mim o ponto de viragem em relação a Carlos Queiroz, vejamos:

1) Portugal – Coreia do Norte: Portugal inicia o jogo com dois laterais que conferem à equipa uma maior predisposição atacante (Miguel e F.Coentrão), Ronaldo joga como extremo e H.Almeida a ponta de lança. Contudo no jogo seguinte, ocorrem mudanças significativas em função do adversário, que se mantêm para o jogo decisivo contra a Espanha.

2) Portugal – Brasil: no onze de Portugal, Ricardo Costa joga a lateral-direito (ou melhor defesa-direito); Pepe a pivot (trinco) e Ronaldo a ponta de lança. Com estas alterações verificou-se uma grande preocupação de Carlos Queiroz com o momento defensivo e depois em utilizar Ronaldo como referência atacante, tornando o nosso jogo ofensivo “solitário”, porque o futebol “cavalgado” de Ronaldo não permitia a Portugal assentar a sua posse de bola, visto que ele teve dificuldades em temporizar o jogo. Pepe preocupava-se mais com os equilíbrios defensivos e em recuperar a bola, sendo em posse de bola um jogador que utiliza a progressão de bola em vez do passe.
Dois adversários completamente distintos, duas abordagens diferentes ao jogo, que conferiram uma dinâmica diferente ao jogar da equipa, em função das diferentes individualidades em posições fulcrais da equipa. Com estas alterações constantes, a identidade da equipa jamais teve uma lógica coerente.
3) Com Paulo Bento, a Selecção não recorreu a defesas-centrais para jogar nas laterais contra a Espanha e Argentina e o nosso meio-campo apesar da fragilidade fisica? (sem Pepe) recorreu a jogadores melhor dotados técnica e tacticamente naquele sector. Assim, estamos a ir ao encontro daquilo que é o nosso ADN futebolístico, que é marcado pelo gosto de ter a bola, jogando um futebol apoiado, alicerçado na irreverência dos nossos atacantes, que conferem a imprevisibilidade individual e colectiva que o jogo necessita. Assistimos na Selecção actual a um jogo onde os jogadores têm uma intervenção naquilo que são melhores. Aqui evidencia-se a inteligência de um treinador ao adaptar as suas ideias de jogo às melhores características dos seus jogadores.

O meio-campo é constituído por Meireles – Moutinho – Martins. Eles fizeram com que Portugal jogasse com poucos toques e com capacidade para tirar a bola da zona de pressão. São jogadores que entendem o jogo de uma forma semelhante, e pensam todos segundo a mesma lógica, o que facilita a dinâmica das suas interacções. Para além disto, são jogadores preponderantes no momento de transição ofensiva, porque pensam rápido e executam com velocidade.

O jogo Portugal - Argentina acabou por ser agradável de ver, tendo em conta a pouca qualidade que estes jogos normalmente apresentam. A Argentina a jogar um futebol curto, apoiado e lento, parecia uma selecção aspirante a Barcelona, mas onde a única semelhança era a qualidade de Messi. Sem dúvida, um jogador mais fino do que Ronaldo na sua técnica e inteligência, mais imprevisível. Esta selecção jogou sem um avançado fixo, Messi quando descia no terreno para “pegar” no jogo, via-se muitas vezes Cambiasso (por incrível que pareça) entre os centrais portugueses, a fazer de ponte (pivot ofensivo) para as entradas de Messi, Di Maria ou Lavezzi, que se mantiveram sempre abertos no ataque argentino.

Esta derrota não deve trazer consequências negativas ao bom momento que a Selecção atravessa, mas no desenvolvimento de uma equipa de Futebol é importante saber porque se perde e também porque se ganha. Só assim o processo de construção de uma equipa tem lógica e é coerente!